Olá!! Há alguns dias me deparei com o termo “multipotencialidade” e foi como se eu tivesse vivido anos com as lentes dos meus óculos embaçadas e de repente voltasse a enxergar.
Quem leu o último post que falei sobre carreira – Eu não sei o que fazer com a minha vida!!, viu que a minha carreira pode ser tudo, menos linear.
Já dei aulas, já fui empresária, já trabalhei com recursos humanos, facilitei treinamentos, já fui gerente de banco, vendedora de roupas e até de produtos de beleza. Sem falar nas graduações e cursos dos mais variados.
Por mais desconexas que aparentemente todas essas funções pareçam, sempre desempenhei todas elas com muita dedicação. Fui promovida em todos os empregos, cheguei a liderar times e a fazer palestras. Multipotencialidade não significa fazer várias coisas ao mesmo tempo, mas se refere à característica de uma pessoa em ter habilidades em diversas áreas, em detrimento de uma área específica.
Sempre tive muita dificuldade em focar em uma coisa só e por isso sofri durante anos por estar sempre começando algo novo, sempre tendo que me reinventar. Sempre admirei as pessoas que tem claro o que querem da vida!
Nunca soube bem como definir essa minha “dificuldade”, mas sabia que diferente do que muitos tentaram rotular, isso não é falta de foco ou indecisão, e agora descobri, ISSO É MULTIPOTENCIALIDADE!!! ?
Segundo o Wikipédia, multipotencial ou multipotencialidade refere-se ao indivíduo cujos interesses ocupam vários campos ou áreas, em vez de serem focados em apenas um.
Multipotencial é a pessoa que possui várias paixões ao mesmo tempo e multipotencialidade é o termo que define esse indivíduo.
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E por que trazer esse tema aqui?
Resolvi abordar esse tema porque aqui no blog falamos de assuntos relacionados à família e ao empoderamento feminino; e o autoconhecimento é algo muito importante para ambos aspectos.
É muito difícil se sentir forte e empoderada se você não se conhece, não sabe o que te motiva e o que te põe para baixo…
Multipotencialidade: uma reflexão sobre a criação de nossos filhos…
Multipotencialidade se estende também para os nossos filhos e a forma como preparamos para a vida real.
Quem nunca ouviu aquela pergunta: “O que você quer ser quando crescer”? Quem já assistiu um diálogo como o que está abaixo?
O adulto: Mariana, o que você quer ser quando crescer?
A criança: Humm… quero ser médica, professora e cantora.
O adulto: nossa, não dá para ser tudo isso, você precisa escolher uma coisa. Para fazer bem, você precisa decidir uma coisa só para seguir.
Por mais que tenhamos ouvido frases parecidas com esta em nossa infância e adolescência, e por mais que pareça algo sem muita importância, o ponto de reflexão é o reforço que nos é transmitido desde a infância.
“O que você quer SER quando crescer” implica que o SER algo é o que vai nos definir no futuro. E se você não É algo ou não acha um rótulo, entra em conflito.
Um dos grandes desafios de educar as gerações atuais é ensinar valores para que nossos filhos saiam para o mundo preparados para serem o que e quem quiserem ser.
Para que não sejam adultos frustrados buscando se enquadrar, como se simplesmente pelo fato de estarem ali naquela bolha com uma classificação no topo, os fará melhores do que outros, separados dos médios ou ruins.
Os estereótipos…
Tem um livro de Stuart Hall que fala sobre estereótipos – ‘Representation: Cultural Representations and Signifying Pratices’. Não sei se tem esse livro em português, mas lá ele fala que desde que nascemos recebemos uma “maleta” de estereótipos.
Ele diz que nós usamos certos traços para definir uma pessoa… pai, mãe, mulher de negócios, divorciado… mas ao mesmo tempo que isso nos classifica por similaridade, também engessa, reduzindo a pessoa àquelas características.
Segundo ele, o estereótipo diz: “Isso é o que você é, e tudo que você é”. Ao mesmo tempo que inclui pessoas em uma determinada característica, exclui outras que não se enquadram nos estereótipos pré-definidos pela sociedade.
As gerações atuais e as próximas gerações estão cada vez mais propensas a questionarem e lutarem contra esses estereótipos. Eles querem experimentar caminhos diferentes e está tudo bem com isso.
Isso não é falta de foco ou indecisão, ao contrário! Isso é uma habilidade de fazer muitas coisas diferentes de forma bem-feita, unindo gostos e paixões.
Não há nada de errado também em ser um especialista, em ter uma especialização em uma área específica. O que é esperado hoje em dia é estudar, trabalhar e seguir uma profissão. Infelizmente, a pessoa multipotencial é vista com um ar de instabilidade. Mas por que gostar de muitas coisas é errado?
A sociedade atual está estruturada em valores que vem lá da Revolução Industrial onde as pessoas passaram a se especializar para que os produtos fossem produzidos e distribuídos em larga escala. Modelo que ficou em nossa sociedade e que não nos permite enxergar outras formas de encarar o processo produtivo.
No período Renascentista, era comum estudar várias disciplinas. A multipotencialidade era bem vista e até estimulada. Um exemplo disso foi Leonardo Da Vinci um grande exemplo de pessoa multipotencial. Ele foi pintor, poeta, físico, arquiteto, engenheiro, escultor, inventor, entre outras coisas.
O que fazer se você se descobriu assim como eu, multipotencial?
O ideal é descobrir um fio da meada em que você consiga reunir grande parte de suas paixões. Quais são as profissões que você pensou em exercer? Quais foram os cursos que você fez?
O que você gosta de ler?
Eu já escrevi um post aqui no blog com dicas para você descobrir a sua paixão – Trabalhe com o que Ama!! Ler…
Eu quando era criança queria ser professora. E mais tarde, pensei em cursar jornalismo porque adorava escrever, mas o que estava por trás disso, é a minha paixão por ajudar outras pessoas escrevendo, transmitindo conhecimento e trocando experiências por meio de palavras escritas ou faladas.
Hoje escrevo, crio receitas saudáveis, gosto de design, de moda, de desenvolvimento pessoal e tudo bem. Tudo o que eu já vivi até hoje, coloco nos meus textos e nas minhas interações e no final, quando analiso vejo que as minhas paixões podem sim estar reunidas em uma atividade profissional.
Se todo escritor só puder escrever, ele vai balizar suas experiências e background com outros escritores. Agora, se além de escrever ele puder aliar outras paixões, hobbies e experiências, não será um escritor como os demais.
Tudo bem que em determinados momentos, é preciso fazer uma escolha, como por exemplo um curso da faculdade, mas isso não implica em abandonar outras paixões.
Conclusão
É importante encorajarmos os nossos filhos a serem eles mesmos e dar o exemplo é o nosso maior ensinamento nos permitindo ser quem verdadeiramente somos, multipotenciais ou especialistas, não importa.
Com mais de 7 anos de vivência na área de recursos humanos, percebo que o mercado de trabalho ainda não está preparado para absorver profissionais multipotenciais de forma que atinjam todo o seu potencial, o que é uma pena, já que os problemas estão cada vez mais complexos e multidisciplinares.
Descobrir sobre multipotencialidade e que isso não tem a ver com ser uma pessoa sem foco ou indecisa, me trouxe muita paz.
Não existe certo ou errado nesse aspecto, descobrir quem você é de verdade é uma jornada pessoal e ser você mesmo, seguir suas paixões e curiosidades, é o maior legado que você pode deixar para o mundo.
Imagino que se você se identificou com o tema esteja querendo saber mais sobre o assunto. Para começar, eu recomendo um TED fantástico da Emilie Wapnick —> assistir e um texto da Revista Exame – Multipotenciais: O Futuro está de Olho em Vocês!
Boa leitura!
Com carinho,
Lú
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