Alimentação Vegetariana para Bebês e Crianças

de Valeria Boccato

Baseado no Guia Alimentar para a família da Sociedade Vegetariana Brasileira

 

Alimentação Vegetariana para Bebês e Crianças

Alimentação Vegetariana para Bebês e Crianças

Muitos dos nossos hábitos são formados na infância, entre eles o hábito alimentar, por isso é importante nessa fase oferecer para as crianças bons exemplos alimentares e adequada e variada oferta de alimentos, afim de garantir o desenvolvimento e crescimento de bebês e crianças.

De acordo com a Academy of Nutrition and Dietetics (antiga ADA) e o Conselho Regional de Nutrição da 3ª Região (CRN-3) a alimentação vegetariana pode ser seguida em todos os ciclos de vida, inclusive a gestação, lactação e infância.

O parecer da ADA considera ainda que a dieta vegetariana, apropriadamente planejada, é saudável, nutricionalmente adequada e promove benefícios à saúde, prevenindo doenças. Vale ressaltar que, com qualquer dieta ou alimentação, o acompanhamento profissional é sempre bem-vindo.

Cada vez mais famílias optam pela alimentação vegetariana ou vegetariana estrita (vegana), inspiram e ensinam os propósitos de vida a seus filhos, e há ainda muitas crianças que escolhem não comer carne por conta própria – fazendo com que os pais aprendam novos valores e um novo estilo de vida.

Para bebês até o sexto mês de vida…

O alimento mais perfeito para bebês de até 6 meses de vida é o leite materno, sendo recomendado como complemento da dieta até os 2 anos de vida.

O leite materno é composto por substâncias únicas, não encontradas em nenhum outro leite ou fórmula infantil como, por exemplo, as imunoglobulinas que protegem o bebê contra infecções e o fator bífido que estimula a formação da microbiota intestinal.

Além disso, apresenta proteínas diversas (caseína, alfa e beta lacto-albumina), algumas delas bioativas (lisozima, haptocorrina, lactoferrina, alfa-1 anti-tripsina, citocinas), carboidratos (o principal é a lactose), gorduras (triglicerídeos, colesterol, ácidos graxos livres, fosfolipídios), vitaminas e minerais.

A volta ao trabalho não é sinônimo de desmame, muito menos de introdução alimentar precoce. É possível ordenhar e estocar leite para ser oferecido ao bebê na ausência da mãe.

Após a ordenha, o leite deve ser levado imediatamente à geladeira ou freezer, e pode ser mantido por até 12 horas na geladeira ou 15 dias em freezer; para descongelar use o banho-maria ou descongele na geladeira, não é aconselhável o uso de micro-ondas ou aquecer direto na panela.

 

Bebês com Mais de 6 Meses de Vida…

Após o sexto mês começa a introdução alimentar.

Aos 6 meses, alguns bebês têm mais facilidade para pegar os alimentos e levar até a boca; outros têm mais dificuldade. É importante aguardar o melhor momento para cada um!

Incentive atenção à refeição, evitando distrações como brinquedos, televisão e celular.

Planejamento Alimentar => A American Dietetic Association e a Dietitians of Canada (2013) preconizam que a introdução de alimentos sólidos é a mesma para bebês vegetarianos e não vegetarianos.

PLANEJANDO A ALIMENTAÇÃO DO BEBÊ VEGETARIANO => O esquema alimentar pode oferecer frutas nos lanches intermediários, mas as refeições principais devem conter todos os grupos alimentares.

A amamentação deve ser priorizada e mantida e, caso necessário, o uso de fórmula deve ser orientado por um profissional.

Na versão vegetariana, as carnes, ovos e derivados não serão incluídos no Esquema Alimentar no bebê. Dessa forma, é necessário aumentar as porções de leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico etc.) e adequar as porções de cereais para que a mesma recomendação nutricional seja atingida.

***É importante salientar que o esquema proposto é apenas uma sugestão. Adaptações e mudanças podem e devem ser feitas e acordo com a rotina e condição do bebê***

 

Esquema Alimentar para Crianças de 6 a 12 Meses…

 

  • 1/3 do prato deve ser composto por – legumes e verduras cozidos ( ex abóbora, couve, brócolis, cenoura, etc)
  • 1/3 do prato deve ser composto por – leguminosas (ex. feijão (todos os tipos), ervilha, lentilha, etc. _
  • 1/3 do prato deve ser composto por – cereais, raízes e grãos – ( ex. arroz integral, quinoa, batatas, milho, mandioca, inhame, etc.)

 

Alimentação Vegetariana para Bebês e Crianças

Alimentação Vegetariana para Bebês e Crianças

 

Dicas! 

Consistência: Não é necessário liquidificar. Os alimentos podem ser amassados ou oferecidos em pedaços.

À medida que o crescimento da criança e a habilidade bucal para a mastigação melhora, os alimentos podem passar a ser menos amassados, até atingir a consistência normal, por volta de 12 meses de idade.

No grupo dos cereais, raízes e grãos podemos incluir as batatas, arroz integral, quinoa, milho, mandioca, cará, inhame, trigo (macarrão integral), amaranto, cevada e aveia em flocos.

Todos devem ser bem cozidos até atingir uma consistência que seja possível amassar com um garfo ou dispor em grande pedaços caso escolha o método BLW.

Apenas o milho ou alimentos mais fibrosos devem ser oferecidos na forma de um purê, até a criança ter a habilidade necessária para mastigá-los.

Não é necessário oferecer mais que um alimento desse grupo por refeição, assim como também é possível oferecer a mesma refeição tanto no almoço quanto no jantar do mesmo dia.

As leguminosas devem ser oferecidas em duas porções ao dia nas refeições principais. Também não é necessário oferecer mais que uma variedade desse grupo ao dia.

As leguminosas devem ficar imersas em água limpa por pelo menos 12 horas antes do cozimento para que os compostos antinutricionais (como o ácido fítico) sejam diminuídos, melhorando a absorção de nutrientes e a digestibilidade do alimento(4).

Após esse processo, cozinhar com água até que possa ser amassado.

Algumas leguminosas possuem maior quantidade de fibras em sua composição, como o feijão branco, formando mais gases intestinais. Nesse caso a sugestão é, após o molho, retirar a “casca”, antes do cozimento.

Legumes, hortaliças e verduras devem ser oferecidos nas duas refeições principais.

Todos podem ser oferecidos frequentemente, exceto o espinafre e a acelga, pois são ricos em ácido oxálico, que é o inibidor mais potente da absorção de cálcio.

Os vegetais que apresentam coloração alaranjada, como cenoura, abóbora e batata doce devem ser oferecidos três vezes na semana para atingir a necessidade de betacaroteno.

Alimentos verdes-escuros que são fontes de cálcio, como o agrião, brócolis e couve devem ser oferecidos pelo menos quatro vezes na semana. Podem ser cozidos no vapor ou por imersão em água até atingir a consistência adequada.

Após o prato montado, adicione o óleo de oliva e linhaça. A adição de 2,5 gramas de óleo de linhaça fornece aproximadamente 1,35 gramas de ômega 3 (ácido linolênico), atingindo tranquilamente a ingestão necessária.

O azeite é oferecido para contemplar a alimentação com a quantidade adequada de lipídios (gordura), necessários à nutrição do bebê.

Junto à refeição principal, é interessante oferecer uma fruta com maior teor de vitamina C (laranja, acerola, abacaxi, morango, goiaba etc.), pois ela auxilia na absorção do ferro não presente nos alimentos vegetais.

Gostou das dicas?

Alimentação Vegetariana para Bebês e Crianças

Nos vemos no próximo post!!

Abraços,

Valéria

 

Leia também:

 

Alimentação Vegetariana para Bebês e Crianças – Referências: 

Considerations in planning vegan diets: Children – Journal of the American Dietetic Association, June 2001, v. 101 Number 6. Conselho Regional de Nutrição, Região 3. Parecer CRN3 sobre o Vegetarianismo. Disponível em: <www.crn3.org.br/legislacao/doc…/ parecer_vegetarianismo_final.pdf>. Acesso em 12 de abril de 2017.

1- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e Distrito Federal. Brasília, 2009. 108p. (Série C. Projetos, Programas e Relatório.

2- Almeida CAN, Mello ED. Alimentação complementar. pp. 66-73; Souza CSB, Costa KCM. Alimentação do pré-escolar e escolar, pp. 74- 80; Lamounier JA, Capanema FD, Rocha DS, Oliveira JED. Anemia Ferropriva, pp. 178-193. In: Nutrologia pediátrica: prática baseada em evidências; Nogueira-Almeida CA, Mello Ed. Barueri, SP: Manole, 2016.

3- SBP, Manual de orientação para a alimentação do lactente, do pré-escolar, do escolar, do adolescente e na escola/ Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia, 3ª. ed. Rio de Janeiro, RJ: SBP, 2012.

4- Breastfeeding, p. 41-59; Formula Feeding of Term Infants, p.61-81; Nutritional Aspects of Vegetarian Diets, pp. 241-264. In: Kleinman RE, Greer FR. Eds. Pediatric Nutrition, 7th Ed. ElkGrove Village, IL: America Academy of Pediatrics; 2014.

5- Mangels R, Driggers J. The Youngest Vegetarians, Vegetarian Infants and Toddlers. ICAN: Infant, Child & Adolescent Nutrition. 20/2012; Vol.4. Nº1; 08-20

6- Hurrell, R.E.I., Iron bioavailability and dietary reference values. Am J Clin Nutr, v.91, n.5, pp. 1461-1467, 2010.

7- Miret, S., Simpson, R.J, Mckie, A.T. Physiology and molecular biology of dietary iron absorption. Annu Rev Nutr, v.23, pp 223301, 2003.

Valeria Boccato

Falando um pouco sobre mim, sou formada graduada em Nutrição pela PUC-CAMPINAS, Pós -Graduada em Nutrição Clina pela Gama Filho; Pós -Graduada em Nutrição Clínica Funcional pela VP consultoria / Cruzeiro do Sul e Pós graduanda em Nutrição Vegetariana pela Sociedade Brasileira Vegetariana. Tenho 23 anos em experiência hospitalar e nos últimos 5 anos faço atendimento em consultório particular e atendimento domiciliar. Atualmente faço workshop de receitas saudáveis e palestras sobre nutrição.

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